GUILLERMO CABRERA INFANTE* (Gibara, 1929 - Londres, 2005)

ELOGIO DA CIDADE
O homem não inventou a cidade, a cidade é que criou o homem e os seus costumes. Urbanidade vem originalmente da palavra latina para cidade. A cidade como a conhecemos teve origem possivelmente na Ásia entre o sexto e o primeiro milénio antes de Cristo. Mas é na Grécia onde a cidade-estado ou Polis que a ideia de cidade chegou ao apogeu com o que Aristóteles chamou «uma vida comum com um fim nobre». Na Roma, creadora do império romano, a cidade, a própria Roma, edificada originalmente sem planificação nem ordem, cresceu até se converter num modelo de outras cidades criadas à sua imagem e semelhança. Durante os Antoninos, Roma chegou a ter quase dois milhões de habitantes, onde os ricos viviam em esplendor e os pobres na miséria, criando o que até hoje se chama quarteirões ou solares
Mas a cidade tem sido destruída mais de uma vez pelo homem que crê a ter criado. Segundo a lenda Nero incendiou Roma, mas Roma foi reconstruída e vive até aos nossos dias: a única cidade que é uma lição de história. As eras romanas vivem nas suas ruínas. É, portanto, a Cidade Eterna. Outras cidades como Berlin e Havana foram destruídas pela guera ou pelo desleixo dos seus governantes. De facto, Havana hoje parece uma cidade em ruínas, não vista de cima como Berlin, mas vista de dentro. No entanto Berlin, como a Roma antiga depois do incêndio, foi reconstruída, e Havana guarda uma estranha beleza entre as ruínas. Ainda que, como Horácio, diga que as ruínas me encontrarão impávido.
Foi assim que procurei em outras cidades o esplendor que foi Havana.