Direito à Cidade
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ABU NASR AL-FARABI* (Wasaij, 870 dc - Damasco, 950 dc)

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Mensagem por Admin Qui maio 15, 2008 1:29 am

Aos homens é necessária a sociedade e mútua assistência de uns a outros
O homem é de tal condição e natureza que, para subsistir e alcançar a mais alta perfeição, tem necessidade de inúmeras coisas impossíveis de alcançar por alguém sozinho; pelo contrário, necessita de companheiros e que cada um deles se encarregue de algo de que os outros necessitam. Todos estão em pé de igualdade. É impossível ao homem obter a perfeição para que as suas capacidades manuais foram criadas a não ser formando sociedades gerais e muito variadas onde mutuamente se ajudem e se ocupem uns dos outros, para além da vida de cada um. Associam-se, pois, para assim poderem encontrar no trabalho de todos o que necessitam para que cada um subsista e chegue à perfeição. Por isso são tantos os indivíduos humanos e por isso se estabeleceram nas partes habitáveis da terra. Deste modo formaram-se diversas sociedades humanas: perfeitas umas e outras imperfeitas. As perfeitas são três: as maiores, as intermédias e as menores. A maior é a reunião universal de todos os homens que habitam a terra. As intermédias são a congregação de um povo ou nação numa parte da terra. As menores são formadas pela gente de uma cidade numa parte ocupada por uma nação. Imperfeitas são as sociedades formadas por uma aldeia, por um bairro da cidade, por uma rua ou somente por uma casa. Esta última é a menor de todas. Os bairros e as aldeias são parte de uma cidade. As aldeias são para as cidades como uma entidade posta ao seu serviço, enquanto que os bairros são partes integrantes da mesma cidade. As ruas são partes integrantes dos bairros e as casas são parte integrante de uma rua. As próprias cidades são parte integrante de uma nação e as nações integram o conjunto dos habitantes da terra. O bem mais excelente e soberano e a perfeição mais elevada obtém-se em primeiro lugar na cidade, mas não em sociedades menores e mais imperfeitas. Como a natureza do bem é a de ser alcançado com em liberdade e pela vontade que também poderá nos levar ao mal. Voluntária e livremente pode a cidade realizá-lo levando a obter alguns dos fins em si maus, e daí resulta que na cidade pode ser fonte de infelicidade. Mas a cidade também é onde se pode obter a felicidade, e essa cidade é aquela cidade em que a mutua ajuda mediante a sociedade está ordenada para as coisas com que realmente se obtém felicidade. Assim é a Cidade Modelo (a Cidade Ideal, a Cidade Virtuosa). A sociedade em que todos se ajudam para obter a felicidade é a Sociedade Modelo. O povo ou nação cujas cidades se ajudam todas mutuamente para a obtenção da felicidade, é o Povo Modelo (Nação Modelo). Da mesma maneira a terra será Terra Modelo somente quando as nações que a formam se ajudarem mutuamente e obter a felicidade. A Cidade Modelo é semelhante a um corpo perfeito e são, cujos membros mutuamente se ajudam para aperfeiçoar e conservar a vida do animal. Como no corpo os membros são diferentes e com distintas propriedades e energias, e, para além do mais, há entre eles um membro principal único que é o coração, e há outros membros cuja importância se aproxima da do membro principal e em cada um deles pôs a natureza uma potência cuja actividade serve para produzir neles um desejo de obter o fim do membro principal; mas ainda existem outros membros cuja finalidade é trabalhar conforme os fins desses primeiros, entre os quais e o principal não existe meio termo, e assim esses segundos constituem um segundo grau; há ainda outros cuja finalidade é executar e obter os fins dos do segundo grau e assim sucessivamente até se chegar aos membros oficiais e não principais: isso mesmo sucede com as cidades, onde umas partes diferem naturalmente de outras e se distinguem pela sua disposição; mas nelas existe um chefe principal e existem outras pessoas cujo grau se aproxima muito ao do chefe principal ou primeiro e em cada uma dessas pessoas se dão disposições e hábitos com que praticam os seus ofícios segundo requerem os fins do chefe principal. Estes formam o primeiro nível. Depois destes há outros que praticam os seus ofícios em conformidade com os fins dos primeiros e formam o segundo nível. Deste modo estão ordenadas as partes da cidade até se chegar àqueles que tão só cumprem os desígnios dos demais. Estes servem e não são servidos. Formam o último nível e são gente comum e ordinária. Mas é de advertir que os membros do corpo humano são naturais e as disposições que têm são potências naturais, enquanto que os elementos que constituem uma cidade, apesar de serem naturais, as disposições e hábitos enquanto trabalham a favor da cidade não acontecem naturalmente, mas voluntariamente, porque, não obstante serem partes naturais da cidade, se bem que de diferente modo, os homens fazem, uns a favor de outros, uma coisa em vez de outra, sem dúvida não fazem parte da cidade por terem somente essas propriedades e disposições, mas também pelos hábitos voluntários que adquiriram, por exemplo o das artes e coisas tais. Assim as potências que naturalmente pertencem aos membros do corpo parecem-se, em comparação com as partes da cidade, com os hábitos e disposições voluntárias.
Abu Nars al-Farabi - La ciudad Ideal. Madrid: Editorial Tecnos, 1995 (2ª edição)
*Filósofo muçulmano discípulo de Paltão e, sobretudo, Aristóteles. Ficou conhecido no islão com o sobrenome de «o Segundo Mestre».

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